Juiz de paz alega que decisão  do CNJ contraria "princípios  celestiais".
  Cartório de Redenção diz que não  pode haver discriminação.
  
celebrar casamento gay em Redenção, no Pará.
(Foto: João Lúcio/Arquivo pessoal)
O juiz de paz do Cartório do Único Ofício de Redenção, sudeste do Pará, pediu demissão do cargo após decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que obriga os cartórios a realizarem casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ele alega que "o casamento homoafetivo fere os princípios celestiais”.
Nomeado para o cargo há sete anos, José Gregório Bento, 75 anos, há mais de quatro décadas é pastor da Igreja Assembleia de Deus, e trabalha como voluntário no cartório civil da cidade, fazendo conciliações e celebrando casamentos.
Segundo o pastor, ele protocolou a demissão porque se recusa a obedecer a decisão CNJ, publicada no último dia 14 de maio, que obriga os cartórios de todo o país a celebrar o casamento civil e converter a união estável homoafetiva em casamento.
“Deus não admite isso. Ele acabou com Sodoma por causa desse tipo de comportamento”, declarou José Gregório. “Acho essa decisão horrível. Ela rompe com a constituição dos homens, mas não vai conseguir atingir a constituição celestial”, completa.
|                Entenda a decisão do CNJ  |           
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|                O Conselho Nacional de Justiça, órgão de controle externo das atividades do Poder Judiciário, obrigou todos os cartórios do país a cumprirem a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de maio de 2011, de realizar a união estável de casais do mesmo sexo. Além disso, obrigou a conversão da união em casamento e também a realização direta de casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Leia mais  |           
Segundo Gregório, ele recebeu a notificação de que não poderia se recusar a fazer casamentos homoafetivos nesta segunda-feira (20) mas afirmou que, desde a publicação da decisão da Justiça, já havia tomado a decisão de abrir mão do cargo. “Não há lei dos homens que me obrigue a fazer aquilo que contrarie os meus princípios”, alega. “Existe ai uma provocação para um grande tumulto no nosso país. Deus fez o homem e a mulher para a procriação, para reproduzir. Não sei onde vai chegar isso”, questiona.
O pastor afirma ainda que solicitou a demissão ao  titular do cartório,  Isaulino Pereira dos Santos  Júnior, mas que o tabelião pediu que ele   permanecesse no cargo. “Ele me pediu para eu ficar e  disse que caso  alguém solicitasse o pedido de  casamento homoafetivo, outro juiz de paz  seria chamado para  realizá-lo. Mas aqui, graças a Deus,   ainda não  chegou ninguém pedindo o casamento  homoafetivo".
  
  Cartório nega  discriminação
  Procurado pelo G1, o titular do  cartório civil de  Redenção negou a  versão do pastor. “De fato, ele pediu  afastamento do  cargo na quarta-feira passada (15), alegando  que iria mudar de cidade  para cuidar da esposa que estaria  internada na UTI de Goiânia, mas não  falou  nada sobre se recusar a fazer casamentos entre pessoas do  mesmo  sexo”, alegou Isaulino.
Ainda de acordo com o titular do cartório, caso o pastor tivesse pedido exoneração porque não aceita o casamento homoafetivo, ele seria imediatamente afastado do cargo. “Eu iria acatar o afastamento, porque não pode haver discriminação. Caso ele queira sair por esse motivo, eu vou solicitar imediatamente ao juiz da comarca outro juiz de paz”, afirma Santos Júnior, que garante ainda que o pastor não entregou ao cartório nenhuma solicitação oficial de demissão do cargo.
Segundo o presidente da Associação dos  Magistrados do Pará (Amepa),  Heyder Ferreira, o juiz  de paz pode pedir demissão se discordar de uma   decisão do CNJ. “Se ele continuar no cargo,  é obrigado a cumprir a  determinação,  mas por ser voluntário, não podemos impor. O  cartorário,  em compensação, é  obrigado a cumprir a determinação”,  explica.
  
  De acordo com o último levantamento realizado pelo  IBGE, no Censo 2010,  1.782 pessoas declararam viver em  casamento entre pessoas do mesmo sexo  no Pará.
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