Presidente do Supremo Tribunal Federal afirmou durante palestra que dirigentes partidários não têm interesse em ter "consistência ideológica”
  Ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (Ueslei Marcelino/Reuters)
Em mais um capítulo dos embates entre  Judiciário e Legislativo, o  presidente do Supremo  Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa,  disse  nesta segunda-feira que os partidos políticos  são “de mentirinha” e  afirmou que o  eleitorado, em geral, “não vê  consistência ideológica e  programática  em nenhum dos partidos”. Para uma plateia formada por   estudantes universitários, o magistrado ainda  declarou que o Congresso  está atrofiado e que  parlamentares, em situações  específicas, cometem  “excessos” e  “saliências”.
  
  “Nós temos partidos de mentirinha. Nós  não nos identificamos com os  partidos que nos  representam no Congresso, a não ser em casos   excepcionais. Eu diria que o grosso dos brasileiros  não vê consistência  ideológica e  programática em nenhum dos partidos”, disse  Barbosa. Na  palestra aos alunos de uma faculdade particular  de Brasília, na manhã  desta segunda-feira,  ele foi duro ao afirmar que nem os partidos   políticos nem os próprios dirigentes  partidários “têm interesse em ter   consistência programática ou  ideológica”. “Querem o poder pelo  poder”,  resumiu ele.
  
  Como exemplo da atrofia do Congresso Nacional, o presidente  do STF  explicou, por exemplo, que na recente  votação da medida provisória 595,  que  redesenha o marco regulatório do setor  portuário, o Senado Federal  teve apenas um dia para  analisar o tema antes que o texto perdesse a  validade por  falta de votação. “O problema crucial  brasileiro, a  debilidade mais grave do Congresso  brasileiro, é que ele é inteiramente  dominado  pelo Poder Executivo", afirmou o ministro aos alunos.  “O  Congresso não foi criado para única  e exclusivamente deliberar sobre o  Poder Executivo. Cabe a  ele a iniciativa da lei”, completou. 
  
  Leia também: Comissão  da Câmara aprova proposta que submete decisões  do STF ao Congresso 
  Congresso  tem 108 emendas à Constituição  'esquecidas' 
Repercussão - Mais tarde, diante  da má repercussão das   declarações entre deputados e senadores, o  ministro do STF providenciou  uma nota de esclarecimento na  qual informa que a palestra serviu como  “um  estímulo ao desenvolvimento do senso crítico e  da cidadania daqueles  jovens alunos”. Na nota, a  assessoria do STF alega que “o ministro  valeu-se da  liberdade de ensinar para expor sua visão  acadêmica sobre o  sistema político  brasileiro”. 
  
  O tribunal nega que as manifestações de  Joaquim Barbosa tivesse por  objetivo criticar a  atuação do Poder Legislativo ou dos  parlamentares.  “A fala do presidente do STF foi um  exercício intelectual feito em um  ambiente  acadêmico e teve como objetivo traçar um  panorama das  atividades dos três poderes da  República ao longo da nossa história   republicana”, afirmou na nota o STF.
  
  Reação - De  Washington,  o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo   Alves (PMDB-RN), também criticou Barbosa. “Uma  desrespeitosa declaração  como essa não  contribui para a harmonia constitucional que temos o dever   supremo de observar”, disse. “O Parlamento e os  partidos políticos,  sustentáculos da  democracia brasileira, e todos os seus integrantes,   legitimados pelo voto popular, continuarão a exercer  o pluralismo de  pensamentos, palavras e ações  em favor do Brasil mais justo e  democrático”,  afirmou.
Já o presidente da Mobilização  Democrática (MD, que nasceu da fusão do  PPS  com o PMN), deputado Roberto Freire (SP), discordou de  Barbosa, mas  admitiu que algumas iniciativas do Congresso  são equivocadas, como a  Proposta de Emenda à  Contituição (PEC) número 33, uma  tentativa de  setores do PT de amordaçar  o Supremo.  “Isso existe, infelizmente,  por conta de algumas omissões do Congresso  Nacional  que, quando não se omite, atenta contra a  separação de  poderes”, disse o  parlamentar. 
  
  Voto distrital -  Aos  universitários, o ministro também voltou a  criticar o sistema  político brasileiro e defendeu o  voto distrital. “O Poder Legislativo é   composto, especialmente a Câmara dos Deputados, que  é a mais numerosa,  em grande parte por  representantes pelos quais não nos sentimos   representados por força do sistema eleitoral adotado  no Brasil, que  trunca as eleições, que  não contribui para que tenhamos uma   representação clara, legítima”,  disse. Para ele, o voto distrital  aproximaria o  político do eleitor e permitiria que a  população  acompanhasse de perto as promessas  e a atuação dos parlamentares.
  
  "A solução seria a adoção  do voto distrital, voto em que, para a Câmara  dos  Deputados, teríamos que dividir o país em 513  distritos, e cada  cidadão residente em um distrito  iria votar em uma pessoa que ele  conheça, de quem  ele possa cobrar", disse Barbosa.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/barbosa-diz-que-congresso-tem-partidos-de-mentirinha

Nenhum comentário:
Postar um comentário