Crônica do Natal Caipira - Rolando Boldrin
Monólogo do Natal - Aldemar   Paiva 
Eu não gosto de vancê, Papai Noé! 
Tamém não gosto desse seu papé de vendê   ilusão pra tar
da burguesia. 
Se os meninu pobre da cidade soubessem o   desprezo qui
o se tem, pelos humirde, pela humirdade eu acho que   eles
jogava pedra em sua fantasia. 
Você talvez vancê nem se alembra mais.   
Eu cresci, me tornei rapaz, sem nunca me esquecê,
daquilo que passô.   
Eu lhe escrevi um biete, pedindo um presente a noite
inteira eu esperei   contente, chegou o sor, mais vancê
num chegou. 
Dias depois, meu pobre   pai, cansado, me trouxe um
trenzinho véio, enferrujado, e me ponhou ansim   na
minha mão e me oiando baixinho me falou: toma, é pra
vancê, foi papai   noé que mandou. E vi quandu ele
adisfarçou umas lágrima cum a mão.
Eu   alegre e inocente nesse caso, pensei que o meu
biete embora cum atraso tinha   chegadu em suas mão, no
fim do mês. 
Limpei ele bem limpado, dei corda, o   trem partiu, deu
muitas vorta, meu pai então se riu e me abraçô   pela
urtima vez.
O resto, eu só pude cumpreender quando cresci   e
comecei a ver as coisa com a realidade. 
Um dia meu pai chegou ansim,   cum quem tá cum medo e
falou pra mim: me dá aqui aquele seu brinquedo   daqui
vou trocá por outro na cidade . Entônce eu entreguei
pra ele o meu   trenzinho quase a soluçá.
e, como quem não quer abandoná um mimo, um mimo   que
lhe deu, quem lhe qué bem, eu supriquei medroso: ?ô
pai eu só tenhu   ele! Eu num quero outro brinquedo, eu
quero aquele. por favor pai, num vá   levá meu trem?. 
Meu pai calô e pelo seu rosto veio descendo uma
lágrima   que, inté hoje creio, tão pura e santa ansim
só Deus chorou! 
Ele saiu   correnu bateu a porta, ansim como um doido
varido minha mãe gritou; pra ele:   José! ele num deu
orvido. Foi embora e nunca mais vortô. 
Vancê, Papai   Noé, vancê me transformou num homem que
hoje a infância arruinô. Sem pai e   sem brinquedo. 
Afiná, dos seus presentes, num ai um que sobre da
riqueza   do menino pobre que sonha o ano inteiro com a
noite de natá. 
Meu pobre   pai coitado, mar vestido, pra num me vê
naquele dia desiludido, pagô bem caro   a minha inlusão,
num gesto nobre, humano e dicisivo, ele foi longe
demais   pra me trazer aquele lenitivo, tinha robado
aquele trem do filho do patrão.   
Quando ele sumiu, pensei que tinha viajadu, no
entanto, minha mãe despois   deu grande, me contou em
pranto que ele foi preso coitado e tranformadu em   réu.
Ninguém pra absolvê meu pai se atrevia. 
Ele foi definhando na   cadeia, inté,qui um dia, Deus
entrou na sua cela e o libertô pro céu.

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